Sonho 3
Sonho Gritos e gargalhadas misturavam-se. Um grupo decrianças tomava banho num riacho. Um dos
meninos, o mais agitado, era magro, cabelos longos,
pretos e brilhantes. Em pé, com a água na altura do
peito, começou a bater na superfície do riacho com as
mãos abertas, atirando água na direção de um menina
que, sentada numa pedra da margem, mordia uma fruta.
Ao receber a ducha, deu um pulo. Era da cor do café ralo,
pernas finas e longas, cabelo cheio comprido e liso, nariz
curto, lábios grossos e um pouco salientes.
O menino continuava dando palmadas na superfície do rio,
levantando cortinas de água:
- Toma Nia!
Só deixou de espalmar a água quando ela lhe acertou nas costas a
fruta que comia, gritando com raiva:
- Pára, Aur! Os homens abandonaram a aldeia muito cedo
para caçar. Ainda havia estrelas. Mais tarde, as
mulheres e crianças começaram a caminhada.
Iam até as grutas da grande planície.
Na entrada da gruta os homens deixaram um
veado que haviam caçado. As mulheres
começaram a arrumar o salão de entrada
da gruta. Nia e mais duas meninas foram
apanhar água. Aur recolheu folhas
e galhos secos do chão. Depois
sentou-se na entrada da gruta
e girando o galho, sem parar,
apareceu um anel de brasa.
Quando o fogo
aumentou,
Aur apagou rapidamente - Aur venha!
- Já vou.
- Aur, estou chamando!
- Já vou, mãe!
- Aur, venha já!
- O que é?
- Vá com sua irmã apanhar pequi no mato da encosta!
- Nia, vamos! Pegou o cesto e começaram a correr.
Do alto das árvores, Aur jogava os frutos e Nia apanhava no ar.
Entardecia, o cesto estava cheio e era preciso voltar. Era costume desenharem, nas paredes de calcário, os animais que caçavam nas redondezas e registrarem a quantidade dos capturados para controle. Se matassem muitos, no futuro teriam problemas. Por isso, em diversos lugares, junto com as pituras, riscavam linhas verticais paralelas entre si: cada uma representava um animal caçado. Se encontravam muitas linhas pintadas no paredão, evitavam caçar naquele local
Sonho 5
5º Sonho quando então, um barulho de água derramada foi ouvido.
A mulher mais velha ajoelhou-se e, enquanto
apanhava algo no chão, veio o primeiro
choro, forte e zangado, de um
recém-nascido. Ouviu-se um longo e rouco rugido, vindo da
esquerda. Fixando os olhos assustados, Aur viu uma
anta caída, com as vísceras espalhadas pelo chão.
Tinha a pata traseira dilacerada.
Um Tigre-de-dente-de-sabre arrancava fatias de
carne com as garras da mão direita, que cortavam
como facas.
Lentamente e em silêncio, os homens se
afastaram de costas, inclinados para a frente, olhos
fixos no tigre. Atravessando a mata rala, onde
já estavam protegidos, Aur olhou rapidamente para
trás e pôde ver o tigre recomeçara a arrancar pedaços
de carne da anta com suas garras afiadas. Teve vontade
de segurar na mão de seu pai.
Ofegava e seu coração disparou. - Tá bom. Pode vir - falou o homem
Finalmente, Aur conseguira convencer o pai. Pela primeira vez
iria acompanhar os homens numa caçada em direção ao norte, onde
não havia paredão.
Os seis homens avançavam, seguindo o curso do rio, velozes
e enfileirados. Aur ia no meio. Caminhavam agora mais
devagar, beirando a mata, e paravam muitas vezes,
observando atentamente o chão. A cada pegada que
encontravam, conversavam sobre o animal que o
deixara
A mulher mais velha ajoelhou-se e, enquanto
apanhava algo no chão, veio o primeiro
choro, forte e zangado, de um
recém-nascido. Ouviu-se um longo e rouco rugido, vindo da
esquerda. Fixando os olhos assustados, Aur viu uma
anta caída, com as vísceras espalhadas pelo chão.
Tinha a pata traseira dilacerada.
Um Tigre-de-dente-de-sabre arrancava fatias de
carne com as garras da mão direita, que cortavam
como facas.
Lentamente e em silêncio, os homens se
afastaram de costas, inclinados para a frente, olhos
fixos no tigre. Atravessando a mata rala, onde
já estavam protegidos, Aur olhou rapidamente para
trás e pôde ver o tigre recomeçara a arrancar pedaços
de carne da anta com suas garras afiadas. Teve vontade
de segurar na mão de seu pai.
Ofegava e seu coração disparou. - Tá bom. Pode vir - falou o homem
Finalmente, Aur conseguira convencer o pai. Pela primeira vez
iria acompanhar os homens numa caçada em direção ao norte, onde
não havia paredão.
Os seis homens avançavam, seguindo o curso do rio, velozes
e enfileirados. Aur ia no meio. Caminhavam agora mais
devagar, beirando a mata, e paravam muitas vezes,
observando atentamente o chão. A cada pegada que
encontravam, conversavam sobre o animal que o
deixara
SONHO 8
8º Sonho Os homens reunidos na esplanada à frente das choupanas, colocavam nas embornais flechas e machados de pedra.
- Deixe-me ir com vocês - pediu Aur, enquanto ajudava o pai a arrumar o embornal.
- Não, é perigoso. Com a seca, os animais pequenos estão à beira da água que
restou e as cobras da planície andam por perto, atrás deles - respondeu o pai,
enquanto pendurava o embornal no ombro.
Sete homens magros caminharam em direção ao leito do rio.
Todos pararam olhando para o chão, uma cobra da
grossura de um braço. O pai de Aur inclinou-se,
pegou a cauda do animal e, com um
movimento rápido, girou a braço
no ar, estatelando a frente do
animal contra uma laje. Com um
machado de pedra,
cortou a cabeça
da cobra. Tudo estava quieto, quando de repente, explodiu a quietude. Raio sem luz com o trovão diferente, imenso e longo, estalou do chão para o céu.
Todos na aldeia correram para longe do paredão. Só o mais velho ficara em pé, parado, olhando o resplendor vermelho do Sol. Foi um longo instante, até retornar o silêncio.
O povo da aldeia, falando ao mesmo tempo, quase no tom de cochicho que o medo provoca, começaram a caminhar ao mesmo tempo na direção do enorme círculo.
A montanha por trás da qual o Sol desaparecera na véspera era como imã atraindo o olhar do mais velho, que ressaltou: - A terra tem fome e abriu a boca bem do lado da aldeia! Lançando no vazio, espigas de milho. - Se não atirarmo comida na sua boca, ela vai abri-la ainda mais. Onde a realidade se torna sonho..
- Deixe-me ir com vocês - pediu Aur, enquanto ajudava o pai a arrumar o embornal.
- Não, é perigoso. Com a seca, os animais pequenos estão à beira da água que
restou e as cobras da planície andam por perto, atrás deles - respondeu o pai,
enquanto pendurava o embornal no ombro.
Sete homens magros caminharam em direção ao leito do rio.
Todos pararam olhando para o chão, uma cobra da
grossura de um braço. O pai de Aur inclinou-se,
pegou a cauda do animal e, com um
movimento rápido, girou a braço
no ar, estatelando a frente do
animal contra uma laje. Com um
machado de pedra,
cortou a cabeça
da cobra. Tudo estava quieto, quando de repente, explodiu a quietude. Raio sem luz com o trovão diferente, imenso e longo, estalou do chão para o céu.
Todos na aldeia correram para longe do paredão. Só o mais velho ficara em pé, parado, olhando o resplendor vermelho do Sol. Foi um longo instante, até retornar o silêncio.
O povo da aldeia, falando ao mesmo tempo, quase no tom de cochicho que o medo provoca, começaram a caminhar ao mesmo tempo na direção do enorme círculo.
A montanha por trás da qual o Sol desaparecera na véspera era como imã atraindo o olhar do mais velho, que ressaltou: - A terra tem fome e abriu a boca bem do lado da aldeia! Lançando no vazio, espigas de milho. - Se não atirarmo comida na sua boca, ela vai abri-la ainda mais. Onde a realidade se torna sonho..